
O impacto do COVID 19 | Estratégias para lidar com o isolamento social
Portugal está em estado de alerta por causa do novo coronavírus e cresce o número de pessoas que ficam de isolamento em casa para evitar a propagação do vírus.
O isolamento social é uma situação desconhecida para a maioria de nós, até aqui. Podíamos ter uma ideia, imaginar, mas apenas isso, uma vez que nunca vivemos uma situação idêntica. Tal como uma criança tem medo do escuro porque imagina o ‘bicho papão’, todos nós temos medo do desconhecido, porque é algo novo em que nos sentimos fora de controlo.
Na verdade, o medo que todos sentimos é uma função protetora do nosso organismo, que lança uma sensação de estado de alerta. É um movimento natural e inato, o que não significa que nos deixemos dominar por ele.
Este isolamento tem impacto psicológico em todos nós, não podendo esquecer as crianças e adolescentes. Há vários aspetos a ponderar como o medo de serem infetados, o stress prolongado ou a falta de contacto com os amigos, os colegas e os professores, de modo que pode gerar frustração, irritação ou tédio.
É crucial manter uma comunicação próxima e aberta com as crianças para identificar quaisquer problemas físicos ou psicológicos e para confortar as crianças em isolamento prolongado. É importante motivar as crianças a manter um estilo de vida saudável em casa, aumentando as atividades físicas, mantendo uma dieta equilibrada, bons hábitos de sono e uma boa higiene pessoal. É expectável que os conflitos domésticos e a tensão com os adultos aumentem, assim como a ansiedade e o medo de serem infetados.
Concomitantemente não devemos esquecer que os adultos são exemplos importantes de modelação de comportamentos saudáveis para as crianças e para as ajudar a desenvolver a sua auto-regulação. Além de monitorizar o estado de saúde e de bem-estar das crianças, é fundamental respeitar a sua identidade e as suas necessidades. Manter uma rede de apoio psicossocial, com vizinhos, amigos ou familiares, pode ser particularmente importante em momentos como este.
Há pequenos gestos que podemos adotar, sendo que a primeira coisa a fazer é aceitar o que estamos a sentir (medo, confusão, frustração) e compreendermos que é natural. Depois, é essencial conhecermos e acreditarmos nas nossas ferramentas para lidar com esta nova situação.
O ser humano tem uma excelente capacidade de adaptação e, no entanto, tem uma tendência a resistir à mudança. No caso de uma pandemia, não há como fugir, ignorar ou contrariar o que está a acontecer.
Temos uma estrutura psicológica que nos permite observar o que se passa à nossa volta e distinguir o que não controlamos daquilo que está ao nosso alcance fazer. Isto significa, agirmos em consciência, em prol do bem-estar individual, familiar e da sociedade em que estamos inseridos.
Irmos a correr ao supermercado e trazermos mercearia em massa é um exemplo de uma reação que surge de um instinto protetor mas que é irrefletido e traz-nos uma sensação de falsa segurança. Ou seja, uma segurança instantânea e de curta duração. O que nos dá verdadeiramente uma sensação de segurança efetiva, mas sólida e prolongada no tempo, são os pequenos movimentos do dia a dia que cada um decide fazer.
As estratégias propostas pela Ordem dos Psicólogos podem ser muito eficazes: saber que esta medida de isolamento não é permanente e vai terminar; manter-se informado apenas por fontes oficiais como a DGS ou a OMS; pedir ajuda sempre que precisar e estar atento aos sintomas, valorizando-os e ligar para o SNS24; promover o contacto telefónico com a família e amigos; fazer em casa atividades que dão prazer; manter a rotina habitual o mais possível.
Devemos estar atentos às crianças, sendo que a forma mais fácil de ler as manifestações de stresse é estar atento a comportamentos fora do habitual: se pedem mais ajuda para tarefas que já faziam autonomamente, se pedem mais colo que o habitual, se manifestam mais irritabilidade e agitação, se dormem mais que o habitual. Tudo o que for a mais ou a menos que o habitual e não há ninguém que conheça melhor as crianças que os seus pais.
O que fazer? É muito importante compreender estes comportamentos, muitas vezes mais infantis, como sinais de que a criança está em dor. Não é um capricho ou uma manipulação perversa. É um mecanismo para a criança receber mais atenção, para ser mais contida, de forma a sentir-se mais segura e apaziguar o medo.
É importante os pais serem compassivos, estarem disponíveis, o que não é fácil nesta altura, mas tão fundamental; manter as rotinas o mais possível, apesar das crianças se adaptarem com facilidade ao novo; explicar, de forma simples, sucinta e adequada a cada idade o motivo das diferenças no dia a dia; deixar espaço para as questões que possam surgir; se os pais estiverem mais unidos e seguros, os filhos sentirão essa segurança.
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